tipografia

A tipografia em ambientes de hipermídia é um elemento fundamental e deve ser pensada sob os preceitos do Design Gráfico. A atividade de criar tipos e organizá-los com arte no espaço se alia, tanto à necessidade de articulação de uma linguagem formal quanto à aquisição de conhecimentos e implicações de forças culturais e estéticas. O primeiro aspecto revela seu lado mais conservador, vinculado à existência de um sistema simbólico de signos verbais regidos por uma série de convenções sociais e culturais.

Por outro lado, a tipografia como ícone apresenta-se de forma mais flexível e passível de ser trabalhada de acordo com preferências subjetivas do designer, enunciada por meio de uma prática expressiva, podendo ser visualmente envolvente, sem desconsiderar os seus objetivos – e o contexto cultural em que é lida –, evitando o uso de ruídos ornamentais e superficialidades estéticas 1.

Podemos dizer que a tipografia significa muito mais do que uma escrita com tipos por conta da sobreposição entre signos verbais e visuais, possibilitando a experimentação de soluções não convencionais.

As regras básicas de tipografia são praticamente as mesmas, tanto para as páginas da web como para texto impresso. A característica mais distinta da tipografia na web é a sua efemeridade. As páginas da web são construídas em tempo real cada vez que são carregadas em um navegador. O sistema operacional, o navegador e o servidor da rede funcionam por meio de uma complexa interação e recriam cada fonte, linha de texto, espacejamento entre palavras, escala etc. Assim, o layout deve ser testado em vários navegadores da web.

A primeira coisa que alguém aprende a respeito de tipografia e design de tipos é que existem muitas regras e máximas; a segunda, que essas regras são estabelecidas para serem quebradas; e a terceira, que “quebrar as regras” foi exatamente mais uma das regras. Ainda que estas sejam estabelecidas para serem desrespeitadas, meticulosamente observadas, mal-entendidas, reavaliadas, readequadas e subvertidas, sabe-se que melhor regra básica é: as regras nunca devem ser ignoradas 2.

No site Thinking with type de Ellen Lupton, encontra-se reunido um estudo aprofundado sobre tipografia.

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hierarquia visual
proporção

Um dos princípios do Design Gráfico é criar uma forte consistência de hierarquia visual, dando ênfase aos elementos mais importantes e organizando os conteúdos de forma harmoniosa, lógica e previsível.

Para alcançar uma boa hierarquia visual, deve-se escolher o tamanho da fonte com critério e seguir uma escala; por exemplo, usar a escala clássica de antigas fontes tipográficas ou, no caso de se utilizar novas escalas, limitar-se a um conjunto modesto de intervalos distintos e relacionados.

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contraste

A primeira coisa que se vê em uma página é o layout como um todo, já que a relação forma e fundo é percebida como um só conjunto, apesar de existirem independentemente.

Uma tipografia que tenha boa legibilidade depende, entre outras variáveis, do contraste visual, pois o contraste entre figura/fundo define a percepção visual, melhorando o desempenho na leitura.

O tipo, a escala, o espacejamento e a entrelinha irão criar uma forma; o contraste de todos esses elementos influenciará a percepção do leitor/usuário. Assim, a letra, a frase ou o texto são percebidos em relação à página que os rodeia.

A tradição tipográfica sugere três qualidades essenciais ao design de tipos: contraste, simplicidade e proporção. O uso de fontes com essas características, contudo, não basta para assegurar uma ótima legibilidade 3.

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estrutura óptica
legibilidade

A tipografia envolve conceitos como a legibilidade e a leiturabilidade. Entende-se por legibilidade as qualidades e os atributos inerentes à tipografia que possibilitam ao leitor reconhecer e compreender as formas e a organização dos tipos com facilidade e maior clareza possível.

Ela é o princípio do design que garante a compreensão do texto, já que o conhecimento que os designers têm de legibilidade se baseia em um legado da história da tipografia e na percepção do mundo visível. Tal conhecimento evoluirá continuamente, criando novos padrões para facilitar a leitura 4.

Para auxiliar a legibilidade em ambientes de hipermídia, devem ser usadas informações em preto ou em cores escuras sobre fundo claro, possibilitando uma leitura mais rápida. É aconselhável o uso de cores neutras para o corpo do texto.

leiturabilidade

Refere-se ao reconhecimento de frases, parágrafos e sentenças, ou seja, do texto como um todo. Vários fatores afetam a legibilidade e a leiturabilidade, como margens, alinhamento, comprimento da linha, parágrafos, espacejamento, entrelinhas, kerning entre outros.

Cabe salientar que o conceito de leiturabilidade é diferente do de legibilidade, no entanto, eles estão inter-relacionados. Uma vez que as letras são signos que representam convencionalmente sons da linguagem verbal, a função primária delas é remeter a uma imagem visual mental padrão reconhecível pelo leitor. É necessário, então, apresentar determinadas formas e traços distintivos entre os diferentes caracteres, de modo a possibilitar sua identificação com clareza.

caixa alta e baixa

A caixa-alta deve ser usada somente para as iniciais, os títulos, os subtítulos e os textos. A caixa-baixa é mais legível, pois, quando lemos, identificamos primeiramente a parte superior das palavras. Ao cortá-las nessa parte em uma sentença, pode-se notar como é mais difícil ler a metade de baixo das palavras de uma mesma sentença.

As palavras que compõem os títulos devem ter suas iniciais em caixa-alta, pois assim, o processo de leitura será interrompido por cada inicial, tornando a identificação de cada palavra mais fácil de ser percebida.

tipos
fonte

Cada tipo ou fonte tem uma característica única que deve proporcionar harmonia ao que está escrito e à informação que está sendo percebida visualmente. Podemos observar que algumas fontes são mais legíveis do que outras na tela, existindo fontes específicas para esse uso. É preciso considerar que nem sempre uma fonte tradicional, como a Times New Roman, considerada bastante legível em suporte de papel, funciona adequadamente em um suporte digital.

Recomenda-se na construção de páginas para web que se utilizem fontes existentes no default dos sistemas computacionais. Quando se utiliza uma fonte que não está instalada no sistema operacional, o browser, para poder executar a visualização da página, automaticamente substitui a fonte não instalada por outra default; isso faz com que ocorram vários problemas no layout da tela e, consequentemente, comprometa a legibilidade e a leiturabilidade.

As fontes mais utilizadas nos sistemas operacionais Apple Macintosh e Microsoft Windows são Arial, Verdana, Times New Roman e Courier.

O primeiro fator a ser considerado na escolha da fonte e do corpo desta é a acuidade visual do usuário. Caso o tamanho da fonte não seja adequado ao espaço que se pretende disponibilizar o conteúdo, torna-se necessário um novo design para que a legibilidade seja preservada 5.

Entretanto, teste com usuários nem sempre é possível. Por isso, recomenda-se que se utilize corpo da fonte 12 para o público em geral, corpo 14 para crianças e usuários iniciantes e corpo 16 para pessoas de baixa visão. O ideal é que o usuário tenha possibilidade de adequar o tamanho da fonte de acordo com suas necessidades, como, por exemplo, ampliar ou reduzir o tamanho da página.

família tipográfica

Compreende o conjunto de fontes tipográficas que compartilham traços de desenhos comuns, sendo, porém, apresentadas com variações, como espessura (fino, normal ou negrito), light (claro), inclinação (redondo ou itálico), regular, entre outros. Por exemplo, Times New Roman é um tipo de letra e Times New Roman Negrito, uma fonte pertencente à família tipográfica Times New Roman.

A tipografia, assim como a cor, deve ser utilizada com cautela.

Na tipografia é importante observar que os sinais não alfabéticos, como a pontuação, o itálico, o espaçamento e as margens, revelam sua distância da fala, bem como a autonomia da escrita em relação à oralidade. Ao legitimar uma escrita que leva em conta não apenas o valor fonológico da palavra, mas valoriza os outros sinais gráficos de que é composta, nota-se, portanto, que os elementos externos, como pontuação, itálico, margens e outros, não podem ser considerados acessórios, visto que sem eles não haveria escrita ou tipografia 6.
estrutura do texto
espacejamento

O espacejamento, segundo Derrida 7, é um código transparente ou vazio criado entre letras, entrelinhas e parágrafos com a finalidade de possibilitar uma leitura fluida, pois, de outra maneira, os textos seriam truncados.

Ao se espacejar levemente um corpo de texto, pode-se criar um campo visual mais arejado. O espacejamento negativo raramente é desejável e deve ser usado com cautela para ajustar uma ou mais linhas de texto justificado.

Embora o alfabeto represente o som, ele não pode funcionar sem marcas e espaços de silêncio. A tipografia manipula as dimensões silenciosas do alfabeto, empregando hábitos e técnicas que são vistos, mas não ouvidos, como o espacejamento e a pontuação. Em vez de tornar-se um código transparente de gravações do discurso falado, o alfabeto desenvolveu recursos visuais próprios, ganhando poder tecnológico ao deixar para trás suas conexões com o mundo falado 8.
kerning

É o processo de ajustar o espaçamento entre caracteres de forma que os espaços existentes entre uma ou outra letra de uma fonte digital se tornem proporcionais. Geralmente, essa correção, que precisa ser feita manualmente, tem como objetivo proporcionar um resultado visualmente agradável. Quando todos os espaços em branco entre cada par de caracteres possuem área semelhante, a fonte considerada tem bom kerning.

Portanto, o kerning é o ajuste do espaço entre as letras individuais, já o tracking (espaço entre letras) refere-se ao espaçamento uniforme aplicado sobre um intervalo de caracteres, ou seja, é o processo de adicionar ou remover espaço em um bloco de texto, mexendo no espaçamento existente em todo o conjunto de letras, seja em uma única palavra, frase ou parágrafo inteiro.

Para um exercício de compreensão de Kerning, pode-se acessar o site Kern Type onde está disponível em forma de jogo a atividade de distribuir o espaço entre as letras.

alinhamento

Em programas de diagramação de textos, geralmente se tem a opção de alinhamento à esquerda, à direita, centralizado e justificado. Os textos devem ser alinhados à esquerda para auxiliar a leitura, assim o leitor encontra a próxima linha de texto com facilidade.

Como cada projeto possui objetivos muito próprios, é preciso fazer um estudo para que a escolha do alinhamento esteja em conformidade com o projeto desenvolvido.

comprimento de linha

O comprimento das linhas deve basear-se na fisiologia do olho humano. Se o olho precisa percorrer uma longa distância na página, o usuário/leitor pode se perder no texto, tendo que retornar ao início da linha para continuar sua leitura.

Estudos mostram que o uso moderado do comprimento de linha aumenta consideravelmente a legibilidade do conteúdo. Nesse aspecto, recomenda-se o uso de colunas de texto que contenham de dez a quinze palavras por linha.

margem

As margens definem a área de leitura da página, separando o texto principal dos outros elementos da tela. São elas, também, que proporcionam contraste e tornam a página visualmente mais atraente e organizada.

Os espaços em branco são necessários porque facilitam a leitura, tornando-a mais agradável, incentivando a compreensão do texto.

colunas

As colunas promovem, tanto legibilidade quanto funcionalidade nos layouts das páginas. Dividir a página em multicolunas proporcionará uma maior flexibilidade de espaço, o que permitirá variações de layout. Tornar as colunas mais estreitas pode favorecer a legibilidade. Já a funcionalidade das tabelas dependerá de como as células serão construídas de acordo com a linguagem HTML ou outra linguagem de programação.

É importante evitar poluição de informação em ambientes de hipermídia educacionais, uma vez que um número excessivo de palavras e detalhes inúteis só servirá para dificultar a compreensão das informações apresentadas.

No site Thinking with type de Ellen Lupton, há exemplos de grids que possuem uma ou mais colunas.

1 CAUDURO, Flávio V. Design gráfico: duas concepções. In: Revista da FAMECOS: mídia, cultura e tecnologia. Faculdade de Comunicação Social, PUCRS. Nº9 (dez. 1998). Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998.
2 KEEDY, Jeffery. The rules of typography according to crackpots experts. In: Looking closer 2: critical writings in graphic design. Org. Michael Beirut e et al., New York: Alltworth Press and American Institute of Graphic Arts: 1997, p.31.
3 4 CARTER, Rob; DAY, Ben e MEGGS, Philip. Typographic design: form and communication. New York: Van Nostrand Reinhold, 1993.
5 NIELSEN, Jakob e LORANGER, Hoa. Usabilidade na Web. Rio de Janeiro: elsevier, 2007.
6 GRUSZYNSKI, Ana Cláudia. Hipertexto como metáfora. Conexão - Comunicação e Cultura V. 1, n. 1, jan./jun. 2002, pp.27.
7 8 DERRIDA, Jacques. Margens da Filosofia. Campinas: Papirus, 1991.