ecologia das mídias

A ecologia das mídias engloba as tecnologias de informação e comunicação e as comunidades culturais em que elas se originam e se desenvolvem. Reúne, também, protocolos, práticas, produtos e instituições envolvidos na criação e na divulgação dessas mídias. Reflexões e discussões sobre o papel do design no complexo contexto do ambiente das mídias são importantes e necessárias para que se compreenda a responsabilidade social dos designers como produtores e criadores de sistemas de informação e de comunicação, bem como de padrões estéticos que irão, certamente, ter influência na cultura e na estrutura da sociedade.

Na era da ecologia das mídias, cada um de nós, por meio de narrativas digitais, colabora e é responsável pela criação de uma rede de conhecimentos pela convergência dos meios de comunicação, da cultura participativa e da inteligência coletiva.

A par de todas as implicações econômicas e políticas decorrentes das profundas transformações culturais que aciona, a ecologia midiática móvel e ubíqua afeta, sobretudo, a cognição humana.

“Cada meio tem critérios próprios de pertinência e para semantizar suas linguagens; por sua vez, cada linguagem depende de um suporte específico, para se expressar” 1

convergência

A convergência da comunicação pode ser entendida sob alguns aspectos, como o fluxo de conteúdos acessados via suportes variados, a cooperação entre mercados e o comportamento migratório dos públicos dos meios tradicionais de comunicação para os ambientes hipermidiáticos. Portanto, o termo convergência atinge não apenas o avanço tecnológico, mas, também, as transformações mercadológicas, culturais e sociais. Esse ponto de vista abrange novos tipos relações tanto na linguagem entre o usuário, o suporte e o conteúdo, estudada pelo design da informação, como no comportamento pessoal.

O conceito cultura da convergência 2 define as transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais percebidas no cenário contemporâneo dos meios de comunicação. O conceito surge da análise do fluxo de conteúdo que perpassa múltiplos suportes e mercados midiáticos, considerando o migratório percebido no público, que oscila entre diversos canais em busca de novas experiências de entretenimento.

Os três conceitos básicos da cultura da convergência são convergência midiática, inteligência coletiva e cultura participativa. Inteligência coletiva refere-se à nova forma de consumo, que se tornou um processo conjunto e pode ser considerada uma nova fonte de poder. A expressão cultura participativa, por sua vez, serve para caracterizar o comportamento do consumidor midiático contemporâneo, cada vez mais distante da condição de receptor passivo. São pessoas que interagem com um sistema complexo de regras criado para ser dominado de forma coletiva. Por fim, a ideia de convergência não é pautada pelo determinismo tecnológico, mas fundamentada em uma perspectiva cultural e social.

As diferentes mídias transmitem variados conteúdos para o público de forma que os meios se complementam, pois se o público utilizar apenas um canal terá a mensagem parcial do assunto em questão, já que a transmídia induz ao ato de contar histórias pelas várias mídias, com um conteúdo específico para cada uma 3.

cognição

A expressão ecologia das mídias tem sido amplamente discutida em uma sociedade mediada pelas mídias, o que possibilitou a criação de redes de conhecimentos. Em uma sociedade exponencialmente mediatizada e midiatizada, é importante apontar a distinção entre os dois termos. Mediatizada vem de mediação, um conceito epistemológico que se traduz por signos de todas as naturezas – verbais, visuais, sonoras e todas as suas combinações – que se compõem, circulam e são difundidas pela midiatização.

Para compreender a atual sociedade é necessário que o indivíduo seja capaz de caracterizar as diferentes linguagens e mídias, suas naturezas comunicativas específicas e suas injunções político-sociais e, a partir disso, ele passa a ter condições para desenvolver a capacidade de levantar perguntas acerca de seu entorno, do que consome em termos de leitura, visualização e escuta. Nesse sentido, torna-se imprescindível apontar que a informação não está centralizada e sim distribuída, está conectada às redes de comunicação. Trata-se de uma sociedade que compreende uma cognição distribuída, é parte integrante da inteligência coletiva que, dadas a pluralidade e a diversidade de fontes de informação na ecologia das mídias em que ela se desenvolve, implica, mais do que nunca, na concepção da inteligência como incluída em um todo complexo participativo, pervasivo e ubíquo. Desenvolver a capacidade de ser um indivíduo crítico em relação às informações que cria, compartilha e recebe 4.

interatividade

Os elementos interativos permitem o envolvimento ativo com mundos fictícios à medida que os experimentamos. Os modelos de narração por meio das mídias marcam o avanço da nossa cultura, pois possibilitaram a participação ativa do leitor ao dar voz a todos para contar histórias. Nesse contexto, a interatividade não só com os elementos da interface, mas com as pessoas, pode nos ajudar a entender melhor as demandas do mundo contemporâneo.

Hoje, conhecemos um novo suporte de escrita e de leitura. As letras, antes escritas sobre superfície estática, transformaram-se em sinais digitais e a página passou, muitas vezes, a ser a tela. É um novo modo de lidar com a escrita que invade um novo espaço, com uma estrutura transacional de comunicação interativa.

A internet instituiu a possibilidade de dar voz a "todos", de se buscar caminhos alternativos, de se escolher e pesquisar um assunto de interesse, de se ter acesso a trocas sobre os mais variados assuntos, de se tornar coautor e transformar o discurso unilateral em colaborativo de forma interativa.

A forma de história digital que há de surgir abrangerá muitos formatos e estilos diferentes, mas será, essencialmente, uma entidade única e inconfundível. Não será um “isto” ou “aquilo” interativo, embora muito dessa forma possa ser extraído da tradição, mas uma rein¬venção do próprio ato de contar histórias para o novo meio digital 5.

1 VILCHES, Lorenzo. A migração digital. São Paulo: Loyola, 2003. P. 244.
2 3 JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: ALEPH, 2009.
4 SANTAELLA, Lúcia. Comunicação ubíqua: repercussões na cultura e na educação. São Paulo: Paulus, 2013.
5 MURRAY, Janet H. Hamlet no Holodeck: o futuro da narrativa no ciberespaço. São Paulo: Itaú Cultural, UNESP, 2003, p. 230.