design social

Estudos 1 sobre o conceito de distância cultural no contexto da influência da tecnologia e do impacto das invenções sobre o desenvolvimento social explicam a situação do ser humano diante de novas tecnologias, quando as mudanças provocam tensões em virtude da demora necessária para a assimilação dos progressos tecnológicos e das descobertas científicas pelas instituições sociais e pelos sujeitos acomodados na sua própria cultura. Contudo, esses indivíduos são obrigados a adaptar-se à nova realidade, pagando o custo de uma desorganização. Os problemas sociais que eles enfrentam surgem do fato de que os aspectos materiais da cultura tendem a se modificar com mais rapidez do que seus traços psicológicos

As tecnologias de informação e de comunicação propiciam que nossa relação com o ambiente seja, cada vez mais, efetuada não pela interação com os objetos em si, mas sim com os signos que expressam esses objetos, a partir de uma linguagem inteligível que possibilita nossa ação. Portanto, o design tem a função social de tornar o ambiente inteligível, possibilitando nossa ação a partir dos signos e da construção da legibilidade do discurso comunicativo nos ambientes, sejam eles virtuais ou não.

É fundamental considerar o design como um processo ativo que influencia a sociedade criando sua cultura material e imaterial. O mundo em que vivemos é mais do que a matéria – que se encontra solidificada como forma –, que se deteve no tempo. Sua forma está definida mediante a atividade, e a ação é o seu centro. Se o design é concebido orientado à ação, entendida como interação ativa e mudança criadora, ele não focará somente o objeto como forma. Ao contrário, os designers irão se preocupar com o desenvolvimento de modelos de processos interativos, nos quais os objetos desempenham um papel central indiscutível como meio para a ação 2. Tendo por base essa ideia, o design e as práticas em humanidades digitais irão se relacionar com a totalidade do espectro concreto e intelectual da interação humana, entre as pessoas, entre usuários e produtos e com o mundo em que habitamos.

design sustentável

Se o design tem a função social de tornar o ambiente inteligível, possibilitando nossa ação, perguntamos qual é a responsabilidade dos designers diante da produção e da divulgação dos conhecimentos e das questões singulares do mundo digital e se estão aptos para trabalhar de forma transdisciplinar com o intuito de propor soluções para os problemas que afetam a humanidade.

Faz-se necessária uma reflexão crítica do campo do Design: ao projetar, os designers estão cientes dos problemas sociais, econômicos, políticos que impossibilitam a criação de uma sociedade sustentável?

Surge a necessidade de pensar "o design em um mundo fluido” 3, no qual produtos, serviços e informações se combinam e levam a modos de projetar, produzir, consumir e utilizar de forma inédita, que resultam da articulação de uma multiplicidade de atores. Para atuar nesse contexto, os designers "têm que mudar seu perfil profissional, convertendo-se em operadores que atuam dentro de uma rede, assumindo o papel de provedores do processo de inovação”. Ao considerar a possibilidade de soluções sustentáveis, a atividade de design que impulsiona o processo de inovação deve ser facilitada pelos designers, em vez de ser diretamente realizada por eles. O designer, a partir de sua criatividade e de suas habilidades de comunicação, pode contribuir para promover um alto grau de participação social ativa 4.

design e cidadania

Papanek 5 questiona, provoca e convoca os designers a se conscientizarem de seu papel relacionado ao social e ao sensível. Heller e Vienne 6 apontam a necessidade da postura crítica na atitude dos designers em sua atuação profissional e também como cidadãos, relembrando Milton Glaser que afirmava: “O bom design é uma boa cidadania”, ou seja, fazer um bom design é uma questão fundamental e indispensável para a sociedade e para a cultura; nesse caso, ele se refere ao bom design como uma obrigação indispensável que acrescenta valor à sociedade, amplia as dinâmicas culturais e sociais e, por isso, design e cidadania devem andar de mãos dadas.

Artigos de Sylvia e Victor Margolin 7 apresentam discussões e propõem um modelo para a prática social de design. E lembram que, a partir do chamado de Papanek, muitos designers passaram a atuar e a desenvolver programas de design para “necessidades sociais, necessidades de países em desenvolvimento, necessidades especiais de idosos, pobres e portadores de deficiência física”. Ressaltam, porém, que existem inúmeros modelos teóricos e práticos (métodos, processos, gerenciamento, marketing, semiótica, consumo) para o design de mercado, mas ainda carece de modelo para as necessidades e para a prática social do design, o que inclui o saber sobre as estruturas, os métodos e os objetivos do design social. E também destacam que não se tem dado atenção para mudanças na educação dos designers, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento de projetos para populações necessitadas.

design ativista

A agitação social e política presente na contemporaneidade é refletida nas práticas do design ao associar a este uma abordagem ativista. Propor o ativismo por meios de design significa criar um conjunto de teorias e práticas voltado à elaboração de projetos focados em questões sociopolíticas, éticas, sensíveis, com um olhar aos diferentes grupos sociais, especialmente aqueles colocados às margens do sistema, as minorias e os vulneráveis.

Thorpe 8, ao pensar o design como ativismo, conceitua-o como uma prática voltada a criar circunstâncias e ferramentas que atuem em questões ligadas ao impacto social e ao serviço público, assim como propostas de organização da sociedade frente à cultura de consumo e ao papel da estética dentro das relações comerciais e produtivas.

A intensificação das práticas ativistas no design tem por função sua politização, como aponta Markussen 9, que situa o ativismo em design como um processo articulado em no qual objetos, sistemas e ações materializam a participação social, o senso de coletividade e, portanto, de exercício de cidadania. A participação social fornece uma afirmação de engajamento na vida pública, conectando os sujeitos sociais presentes na realidade cotidiana às discussões e problemáticas de seu tempo

1 ORGBUM, Willian. In: COULON, Alain A escola de Chicago. Campinas: Papirus, 1995.
2 MEURER, Bernd. User-centred graphic design. In: FRASCARA, Jorge; MEURER, Bernd; TOORN, Jan van; WINCKLER, Dietma. User-centred grafic desing: mass communication and social change. Flórida : CRC Press, 1997.
3 4 MANZINI, Ezio. El diseño como herramienta para la sostenabilidad medioambiental y social. In: MACDONALD, Stuart (org.) Design issues in Europe today. Barcelona: BEDA, 2004, p. 17-20.
5 PAPANEK, Victor. Design for the real world: human ecology and social change. Illinois: Academy Chicago Publishers, 1971.
6 HELLER, Steven; VIENNE, Veronique (orgs.). Citizen designer: perspectives on design responsibility. New York: Allworth Press, 2003.
7 MARGOLIN, Victor; MARGOLIN, Sylvia. Um modelo social de design: questões de prática e pesquisa. Revista Design em Foco, Salvador, EDUNEB, v. 1, n. 1, p. 43-48, jul./dez. 2004.
8 THORPE, Anne. Architecture & design versus consumerism: how design activism confronts growth. London: Earthscan, 2012.
9 MARKUSSEN, Thomas. The disruptive aesthetics of design activism: enacting design between art and politics. Design Issues, v. 29, n. 1, p. 38-50, 2013.