cultura visual

A cultura visual é um sistema de significado de uma sociedade. Abrange instruções, objetos, práticas, valores e crenças que são os recursos por meio dos quais uma estrutura social é produzida, reproduzida e contestada por sua visualidade. Tais posições de poder e status são produtos de um sistema econômico específico, qual seja o capitalismo. Esse aspecto da cultura visual, portanto, liga ideologia e política, e está intrinsecamente relacionado com os caminhos pelos quais a cultura visual produz e reproduz a sociedade, assim como os caminhos pelos quais identidades e posições dentro dessa sociedade podem ser contestadas e desafiadas. Para o campo do Design, o importante e fundamental dessa discussão é compreender a responsabilidade social do designer enquanto produtor e criador de sistemas funcionais, comunicacionais e estéticos, os quais, de alguma maneira, irão influir para a construção da cultura visual e, por sua vez, da estrutura de uma sociedade 1.

A cultura visual tem interesse pelos acontecimentos visuais em que o consumidor procura informação e significado, ou lazer, conectado a uma tecnologia visual. Como tecnologia visual entende-se qualquer forma de artefato projetado, seja para ser observado, seja para aumentar a visão natural, desde a pintura a óleo até a televisão e a internet. Ainda que os meios visuais de comunicação estejam sendo estudados de forma independente, em disciplinas diferentes, como História da Arte, Cinema, Jornalismo e Sociologia, entre outras, apresenta-se atualmente a necessidade de interpretá-los em conjunto, como parte da vida cotidiana, nesse campo emergente denominado cultura visual 2.

A ênfase da cultura visual está na criação e na exploração de novos arquivos de materiais visuais, mapeando-os para descobrir conexões entre o que é visual e a cultura como um todo, e percebendo que o que estamos aprendendo a ver, acima de tudo, é a mudança em escala global 3

Os estudos sobre conceitos de cultura visual são relevantes. Considerando que a experiência humana a cada dia está mais exposta aos recursos visuais, entendê-los nos tornará pessoas mais criteriosas e informadas em nossas decisões. O design pode influir sobre a cultura visual dada sua natureza projetual de imagens e de objetos da cultura e a necessidade de compreender a responsabilidade do ensino de Design perante essa nova demanda. “A educação deve ser um despertar para a filosofia, para a literatura, para a música, para as artes. É isso que preenche a vida. Esse é o seu verdadeiro papel4

alfabetismo visual

Não podemos entender as imagens sem levar em conta diversos fatores que implicam seu significado, como, por exemplo, fatores culturais, tecnológicos e econômicos.

Existem dois fatores distintos, porém, relacionados entre si, que merecem ser destacados em particular. Trata-se, por um lado, do movimento que está sendo produzindo desde a escrita, que por séculos dominava nosso meio de comunicação, para o novo domínio da imagem, composto pelo movimento que vai desde a dominação do meio livro até a dominação do meio tela. Essas duas mudanças estão produzindo, por elas próprias, uma revolução nos usos e nos efeitos da visual literacy que, neste trabalho, vamos traduzir para alfabetismo visual, e dos meios associados para representar e comunicar em todos os níveis e âmbitos. A este respeito duas questões importantes se impõem: Qual é o provável futuro do alfabetismo e quais seriam os mais prováveis efeitos sociais e culturais? 5

Tudo aquilo que aparece representado no discurso oral ou no escrito tem que se inclinar inevitavelmente sobre a lógica e a sequência do tempo. Consequentemente, o mundo representado no discurso oral ou no escrito é (re)configurado de uma maneira real e quase temporal. A interação humana com o mundo por meio da imagem não pode escapar a essa lógica, que ordena e configura como representamos o mundo e configura, por sua vez, como o vemos e como interagimos com ele. O gênero da expressão é a exibição formal culturalmente mais potente disso. O mundo narrado é diferente do representado e expressado pela imagem 6.

O caminho de leitura na imagem está relativamente aberto. As imagens estão cheias de significado, enquanto as palavras esperam para serem preenchidas de significado. O caminho da leitura do escrito ou do discurso oral se estabelece com muito pouca ou nenhuma derivação, enquanto na imagem está aberto. Esse é o contraste de permissibilidade dos dois modos, o escrito tem elementos relativamente vazios colocados em ordem restrita. Na imagem, contudo, os elementos estão cheios e dispostos em uma ordem relativamente aberta. O trabalho imaginativo do escrito se encontra em encher as palavras com significados, e logo ler os elementos cheios de significados, seguindo a estrutura sintática dada. Na imagem, a imaginação se centra em criar a ordem de disposição dos elementos com um significado já dado 7.

sistema simbólico

Os processos mentais são mediados por sistemas simbólicos e os indivíduos agem mentalmente com essas representações de objetos e situações do mundo real, sendo capazes de manipulá-las na ausência dos objetos representados, criando objetos imaginários.

O significado da palavra transforma-se ao longo do movimento histórico, modifica-se a própria estrutura do significado e a sua natureza psicológica. Não é o conteúdo de uma palavra que se modifica, mas o modo pelo qual a realidade é generalizada e refletida em uma palavra. A relação entre pensamento e palavra não é algo já formado e constante, mas está em contínua transformação. O pensamento não é a expressão da palavra, mas é por meio dela que ele passa a existir. Assim criam-se os sistemas simbólicos 8.

Os signos não evocam apenas objetos ausentes, mas cenas, intrigas, séries completas de acontecimentos ligados uns aos outros. Sem as línguas, não poderíamos nem colocar questões, nem contar histórias. As pessoas podem se desligar parcialmente da experiência em curso e recordar, imaginar, jogar, simular. Assim, elas se deslocam para outros lugares, outros momentos e outros mundos.

Todos os fenômenos da cultura são sistemas de signos, a cultura é essencialmente comunicação, ou seja, seus produtos só funcionam porque são também processos comunicativos 9.

tecnologia visual

A tecnologia tem feito com que a cultura visual seja muito mais accessível que as formas literárias da cultura. O poder das tecnologias visuais, sob uma perspectiva educativa, é profundo e de extrema importância para que as pessoas possam compreender a forma visual 10.

A função principal da cultura visual é poder dar sentido à variedade infinita de realidade exterior mediante a seleção, a interpretação e a representação da dita realidade. Uma parte importante dessa explicação é que ela coloca visível as diferentes maneiras pelas quais a imagem foi se transformando gradualmente como representação, derivada de algo real. Essas convenções são, entretanto, poderosas e significativas e, por essa razão, não será suficiente expô-las como construções sociais apenas. Os designers, como produtores da cultura visual, devem compreender por que um sistema prevalece sobre outro e sob qual circunstância pode mudar um sistema de representação, quando e como podem representá-lo 11.

A cultura visual pode facilitar o rompimento de limites e ensinar conceitos. As representações estão compostas de uma combinação de significados possíveis e fazem referências a eles, em vez de depender de apenas um significado, unificado, com uma intenção. Toda uma esfera de significados se interpreta e se une debilmente a signos que construímos e ensinamos uns aos outros informalmente, para facilitar a comunicação. Essa é a razão pela qual podemos reconsiderar os exemplos da cultura visual e continuar desenvolvendo significados por meio de novas experiências com eles, estejamos em um museu observando uma pintura renascentista, ou sejamos fãs do filme Guerra nas Estrelas, vendo-o pela décima vez na televisão 12.

Considerando-se que todo fenômeno cultural só funciona culturalmente porque é também um fenômeno de comunicação, e que estes fenômenos só se comunicam porque se estruturam como linguagem, pode-se concluir que todo e qualquer fato cultural, toda e qualquer atividade e prática social constituem-se como práticas significantes, isto é, práticas de produção de linguagens e de sentidos 13.

1 BARNARD, Malcolm. Art, design and visual culture. London: Macmillan, 1998.
2 3 MIRZOEFF, Nicholas. How to see the world: an introduction to images from self-portraits to selfies, maps to movies and more. New York: Basic Books, 2016.
4 MORIN, Edgar. O verdadeiro papel da educação – Edgar Morin.
5 6 7 KRESS, Gunther. El alfabetismo en la era de de los nuevos medios de comunicación. Archidona, Málaga: Aljibe, 2005.
8 VYGOTSKY, Lev. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes. 1987.
9 13 ECO, Humberto. Obra aberta. São Paulo: Perspectiva, 1971.
10 12 FREEDMAN, Kerry. Emseñar la cultura visual. Barcelona: Octaedro, 2003.
11 MIRSOEFF, Nicholas. Una introducción a la cultura visual. Barcelona: Paidós, 2003.